O Crucificado do meio
No Império Romano, século primeiro d.C., os crucificados eram contados aos
milhares, a ponto de, no ano 70, quando do cerco de Jerusalém pelo general
Tito, o historiador Flavius Joséfhe anotar "que faltava espaço para as
cruzes e cruzes para os condenados". Quarenta anos antes no dia 14 do mês
de Nizã, três homens sofreram esse suplicio. Um deles tornou-se "o
Crucificado". Sua memória atravessa a história.
7 de abril do ano 30. Nas proximidades de Jerusalém, fora dos muros da
cidade, três patíbulos, três homens crucificados. O lugar chama-se Gólgota
"lugar do crânio". O homem do meio chama-se Jesus, veio de Nazaré, na
Galileia. Os outros dois são “bandidos, malfeitores, subversivos”, isto é,
homens que lutam contra a dominação romana. Seus nomes não conhecidos. No
entanto Jesus é conhecido em toda parte. É um pregador itinerante. Viram-no
passar pelas aldeias da Galileia. É um pregador itinerante. Viram-no passar
pelas aldeias da Galileia, às margens do lago do Tiberíades, pelas estradas que
vão em direção a Jerusalém, através da Samaria, no vale do Jordão, na Judeia.
Escândalo sobre escândalo no Templo
O homem não aguenta mais. Ele se exaure, tentando encher os pulmões e
respirar, porém o processo de asfixia continua lentamente seu curso. Seus
punhos estão pregados na barra transversal. O suplício reservado aos não
romanos, aos criminosos, aos subversivos e aos escravos, é horrível.
Quanto tempo Jesus levará para morrer? Os crucificados chegam a agonizar
durante vários dias. Ele é injuriado. Desafiam-no: “Tu que disseste demolir o
templo e reconstruí-lo em três dias, salva-te a ti mesmo.” (Mc 15, 29-30)
A alusão é fustigante. Noutro dia ele escandalizou o povo no Templo, através
de atos e palavras.
Uma falta imperdoável: o golpe nas prerrogativas da todo-poderosa casta
sacerdotal
Sem animais a ofertar , sem dinheiro para compra-los, não há mais sacrifício.
Jesus contesta o próprio culto. Não foi o primeiro a pôr em xeque a liturgia
sacrificial e a olhar sem fascínio a fumaça que se eleva acima do altar onde
queimam as oferendas. Alguns profetas já haviam pronunciado palavras muito
duras da parte de Deus: “Abomino, desprezo vossas festas, o sacrifício de
vossos animais gordos. Mas, sim, o direito escoando como a água e a justiça,
como uma torrente que não se esgota jamais” (Amós, século VIII a. C).
Jesus, então, pronuncia uma frase mais sacrílega ainda: “Demoli este Templo
e em três dias eu o reconstruirei. Há seis séculos, após a destruição de
Jerusalém pelos Babilônios, desejava-se reconstruí- lo. Há 46 anos, enfim,
construiu-se um conjunto monumental. Alguns criticavam-no: os essênios do
Qumrã, João Batista....No entanto, o Galilei fala em destruí-lo! Trata-se, no caso, de atacar ao mesmo tempo as
prerrogativas de todo um clero e seus privilégios de todo tipo. Trata-se,
também, de querer levar Jerusalém à ruína, pois a cidade vive do fluxo de
peregrinos das grandes festas. Trata-se, enfim, de desdenhar a presença do
próprio Deus nesse lugar santo. E o Nazareno pretende substituir-lhe “em três
dias” o famoso Templo esperado no fim
dos tempos, quando Deus virá rasgando os céus, inaugurar seu Reino.
Jesus falou insistentemente desse “Reino
de Deus iminente, agora eis que quer
frear seu aparecimento.
Tudo isso corre o risco de desembocar em algum movimento de insurreição. Já
é tempo de dar um basta. O sumo sacerdote deu a palavra final: “Mais vale que
um único homem morra que todo um povo.
Uma verdadeira revolução
O crucificado está se exaurindo. O
sobressalto do corpo a fim de encontrar fôlego torna-se irregular, brutal. Que
reprovação da parte de Deus! Que zombaria no motivo de sua condenação escrito
acima de sua cabeça: “ Reis dos judeus!” Seus inimigos mandam-lhe dizer: “ Se é
o rei de Israel, que desça da cruz e acreditaremos nele!” (Mt 27,42) Ele teve a
coragem de dizer e repetir: “Disseram-vos(....) Eu, porém, vos digo” (Mt
5,21...) Caso se acredite no Evangelho de Mateus, que talvez tenha enfatizado
um pouco essas antíteses, Jesus não hesitava em se fazer igual a Moisés que
legara a Lei a Israel. Fazia do amor o único absoluto e relatizava todo o
sistema de prescrições que estruturava a
existência de Israel, consolidava sua identidade e o fazia viver com Deus. Tudo
tornava-se flutuante, tinha-se a impressão de que se mudava de religião de ver
pulverizada a concepção tradicional de Deus. O dano era geral e ilimitado.
Jesus de certa maneira havia posto tudo em questão.
Por volta das três horas da tarde, deu um grande grito: “Meu Deus, meu Deus,
porque me abandonas-te?”
(Mc 15,24) – primeiro versículo do Salmo 22. Tem sede. Apresentam-lhe um
esponja embebida em vinagre. Outro grito e expira. O corpo amolece curvando-se
sobre o próprio peso.
Um comentário:
Bom dia Sam vieira adorei conhecer este espaço lindo maravilhoso de poemas e textos admiraveis ja sou seguidora de seu blog se quiser conhecer meu cantinho,(mentoresdeluz.blogspot.com)
seja bem vindo ficarei muito feliz tenha um exelente final desemana bjs com carinho marlene
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